ENQUANTO ISSO, EM MATO GROSSO do SUL….O RALHO DA SEMANA, DO DIA, DO MÊS E DA HORA
Enquanto isso, no fantástico e imaginário mundo parlamentar…
Enquanto pacientes reais agonizam nos corredores da rede pública por falta de
leitos, insumos e até medicamentos básicos, o deputado estadual João
Henrique Catan (PL) resolveu combater o inimigo número um da saúde em
Mato Grosso do Sul: bonecas reborn. Isso mesmo. Com a saúde em colapso e
a fila de UTI infantil somando mortes, o parlamentar achou urgente proibir
atendimentos médicos a bonecos hiper-realistas no SUS.
Em uma tentativa desesperada de surfar na onda bolsonarista e faturar cliques
nas redes sociais, Catan apresentou um projeto de lei absolutamente
desconectado da realidade. Ele propõe que o Estado proíba o uso dessas
bonecas para qualquer tipo de atendimento público, como vagas em
estacionamento preferencial, filas e, claro, consultas médicas, como se isso
realmente estivesse acontecendo por aqui.
Sem apresentar um único caso real ocorrido em Mato Grosso do Sul, o
deputado afirma, indignado, que o SUS precisa atender “seres humanos, é
claro”, e que é “inaceitável” desperdiçar recursos públicos com bonecos. O
detalhe? Ninguém está fazendo isso. O projeto, assim como o problema que
tenta resolver, é completamente fictício.
A proposta é tão absurda que faria rir, se não fosse trágica diante do contexto.
Em Campo Grande, crianças morrem na fila esperando UTI. Mães contratam
fisioterapeutas com o pouco que têm para não deixar seus filhos sem
assistência. Médicos lidam com a falta de antibióticos básicos. Mas o
Legislativo está ocupado discutindo bonecas de silicone.
O texto segue a linha de projetos apresentados por parlamentares
bolsonaristas em outros estados e no Congresso Nacional. Tem proposta para
proibir reborn em lotéricas, bancos, estacionamentos, maternidades e até em
lojas de brinquedo. Já viramos a capital do improviso; agora, flertamos com o
título de República do Delírio Legislativo.
Se o deputado quer mesmo combater o uso indevido dos serviços públicos,
poderia começar pedindo auditoria em contratos da saúde, fiscalização de
UPAs sucateadas ou explicações sobre sumiço de insumos hospitalares. Mas,
claro, isso exige coragem política, não teatrinho para os algoritmos.
O mais triste é ver tempo, estrutura e dinheiro público sendo desperdiçados em
um projeto que não tem qualquer base empírica, não resolve problema algum e
ainda desvia o foco do que realmente importa: o sofrimento diário de uma
população abandonada pelo poder público.
Enquanto isso, os cidadãos comuns seguem na fila, mas não para brincar de
boneca. Estão esperando por atendimento médico, por respeito, por gestão
pública de verdade. E recebem, em troca, uma proposta legislativa que parece
saída de um episódio ruim de programa humorístico.
Ao justificar seu projeto, Catan fala em “racionalidade do serviço público”. Só
esqueceu de aplicá-la à própria atuação parlamentar. No teatro político, há
personagens que emocionam, outros que provocam, e há os que optam pelo
papel do ridículo.
E se amanhã um cidadão questionar o deputado sobre o que ele fez diante da
crise na saúde pública, ele poderá responder, com orgulho: “Combati bonecas
de plástico.” Afinal, no mundo paralelo da política-espetáculo, é muito mais fácil
lutar contra fantasmas do que encarar a realidade.