ENQUANTO ISSO, EM MATO GROSSO do SUL….O RALHO DA SEMANA, DO DIA, DO MÊS E DA HORA 😜
Quem vigia os que deveriam vigiar?
Depois que quatro dos sete conselheiros foram afastados por suspeita de
crimes gravíssimos, o Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE-MS)
enfrenta hoje a mais profunda crise de credibilidade de sua história. Em tese, a
Corte existe para fiscalizar gastos públicos, zelar pela legalidade e coibir
desvios. Na prática, virou protagonista dos escândalos que deveria combater.
Entre tornozeleiras e decisões judiciais, restam apenas três conselheiros em
pleno exercício da função — e uma dúvida constrangedora que paira sobre a
instituição: como confiar em um órgão onde a maioria dos membros titulares
está sendo investigada por corrupção? Não bastasse a gravidade dos fatos, a
situação revela uma falência ética institucionalizada.
Waldir Neves, Iran Coelho das Neves e Ronaldo Chadid, afastados em 2022
por determinação do Superior Tribunal de Justiça, foram monitorados
eletronicamente durante anos, como personagens de um roteiro kafkiano onde
os fiscais da lei são vigiados pela própria Justiça. E mais recentemente, o
corregedor Osmar Jeronymo também foi retirado do cargo, investigado na
Operação Ultima Ratio por suposta venda de sentenças, um escândalo que
escorre para os porões do Judiciário sul-mato-grossense.
A ironia não poderia ser mais cruel: enquanto pregavam a moralidade e
julgavam prefeitos e secretários por irregularidades, montavam seus próprios
esquemas nas sombras do poder, segundo as investigações da Polícia
Federal. O que era para ser um bastião de controle virou, tristemente, um
centro de suspeitas.
A Constituição exige que conselheiros tenham “idoneidade moral e reputação
ilibada”. Mas no Mato Grosso do Sul, parece que a interpretação virou cláusula
decorativa. Em vez de blindar o TCE da politicagem e dos conchavos, o
sistema de indicações — muitas vezes movido a favores e apadrinhamentos —
acabou elevando suspeitos ao topo da fiscalização pública.
O resultado é devastador. Como um órgão pode exigir transparência e
legalidade se está mergulhado até o pescoço em denúncias de corrupção,
licitações fraudulentas e interferência judicial? O TCE, que deveria ser guardião
das contas públicas, hoje tenta salvar a própria pele.
Mais do que um escândalo isolado, o que se vê é a falência de um modelo. Um
tribunal composto majoritariamente por indicações políticas, onde a técnica
muitas vezes é preterida pela conveniência partidária, está fadado a ruir. E o
que sobra é exatamente isso: tornozeleiras, afastamentos e vergonha
institucional.
A população, que mal sabe quem são os conselheiros, passa a compreender o
porquê de tantos pareceres complacentes, de tantas irregularidades “julgadas
regulares com ressalvas” e de tantas contas públicas que viraram moeda de
troca no subterrâneo do poder.
Se há algo que precisa ser fiscalizado com urgência, é o próprio TCE. Porque
quando os fiscais viram réus e o controle vira esquema, a democracia perde
um de seus pilares essenciais. E Mato Grosso do Sul segue empilhando crises
que não cabem mais sob o tapete institucional.
Resta saber se, ao fim dessa novela jurídica, o Tribunal de Contas será capaz
de reconstruir sua imagem ou se seguirá como símbolo de uma triste
contradição: um órgão que julga contas, mas não presta contas à sociedade.