COM QUE CARA EU FICO? >Por AMORIM

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Estávamos em pleno períneo, com eleições em segundo turno terminadas e faltando uma eternidade para o caçador de maracujás iniciar seu reino de trevas. O governo Sarney arrumando as malas de volta à Brasília, e já dava para ver o que deixaria para trás.
Deixou milhares de charges e caricaturas sobre os cinco anos de seu governo. Depois de vinte anos de censura, nunca se publicou tanta caricatura de um presidente. Figueiredo foi só um leve peido diante do vendaval que viria depois. Aqui e ali uma rusga, um mimimi, uma lengalenga, nunca uma rabiscada da censura. O que na história dessa terra é um feito. Mas também o Ribamar não fez mais que a obrigação…
Voltando à taime-láine…Eleições, novembro, e eu puxei a ideia de uma retrospectiva do pessoal que publicava na época. Jaguar deu ok e lá fui eu pro brejo. Demorou dois meses o cata-cata mas acho que deu um panorama legalzinho. Ganhei uma ou duas inimizades por deixar gente de fora, mas cartunista é uma raça ciumenta e bexiguenta, como vocês já sabem. Senão vejamos:
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COM QUE CARA EU FICO?
No esvaziar das gavetas e apagar das luzes do governo Sarney (que muitos acreditam ser mera ilusão de ótica), já podemos contabilizar mortos e feridos em combate nesses últimos cinco anos. Em quase todas as direções que olharmos, veremos escombros no que, justiça seja feita, o solitário cavaleiro da Praia do Calhau sempre se esforçou em transformar essa terra.
Porém num ponto esse senhor teve conduta um pouco acima do visível: foi o governante mais sacaneado (depois do Delfim) pelos caricaturistas de plantão e jamais se intrometeu no trabalho da rapaziada, seja por talvez não ler jornal ou, quem sabe, preferir deixar a censura para os editores destes. Médici, aliás bom filho da puta, interrompeu o registro dos governantes, só tendo Floriano Peixoto como similar na história da Caricatura iniciada desde antes de Agostini e Pedro II. Como se isso servisse de consolo.
Muita gente boa ficou de fora dessas páginas, seja por espaço, seja pelo desfalcado arquivo do Pasca. Como suspeitamos que o próximo governo não é lá muito chagado a esse troço de liberdade de expressão, o negócio é assistir o compacto com os melhores momentos com a inabalável certeza que o pior ainda está por vir. (Amorim) Pasquim, 12/01/1990

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