A imprensa brasileira é muito engraçada. Já reparou que quando falam de ricos, se é estadunidense é “bilionário”; se é russo, é “oligarca”?

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A imprensa brasileira é muito engraçada. Já reparou que quando falam de ricos, se é estadunidense é “bilionário”; se é russo, é “oligarca”?

Olha como é divertido: o governo dos EUA é sempre chamado de “administração”, o governo da China é o “regime”.
Nas guerras é, no mínimo, curioso: o Hamas “assassina, executa os reféns prisioneiros”, mas Israel “elimina terroristas capturados”. Pela mesma lógica, a Rússia quer “invadir”, mas os EUA e Israel pretendem apenas “anexar”.
Se estão falando da autoridade máxima do Irã ou da Venezuela, é “Ditador”. Mas quanto a países sem eleições como na Arábia Saudita ou na Ucrânia, são “lideres” e “Presidentes”. Muito estranho, né?
Se a inflação na Argentina foi de 200% em 2004, está sob controle. Aqui, a 5%, pronto: “disparou!”
Se os cafeicultores e donos de granjas resolvem dirigir as vendas de seus produtos para o mercado externo e faturar café e ovo em dólar, o Lula “desabasteceu” o país! Se ele proíbe a jogada, é “intervencionista”.
O Guedes apenas “superou o teto de gastos”, mas o Haddad opera sempre uma “gastança” que “compromete o controle do Déficit Público”.
Lula não cobra imposto, lula “taxa!”.
Com Lula o dólar não sobe, com Lula o dólar “explode”, a bolsa não recua, ela sempre “despenca”.
Os governadores da oposição não aumentam a dívida nem cortam serviços essenciais, muito menos entregam patrimônio público… não: eles “enxugam a máquina”.
Pudera: a ultrafinanceirização da economia desmontando o Estado e com ele todas as garantias sociais é chamada de “responsabilidade fiscal”.
É assim que a banda da mídia toca, e a tal Duailib é apenas o Sardemberg da vez, hipnotizando a turba de esfarrapados.
Dilma era “descontrolada”, “mão de ferro”. Temer era “firme”.
*A linguagem é tudo quando queremos colonizar uma nação. Tudo.*
Texto de Marcílio Godoi
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O Ralho
O Portal O Ralho é composto por um grupo de artistas digitais que utiliza a política como fonte de inspiração. Dado o tamanho da bizarrice a política é humor próprio e porque é, em si, uma coisa engraçada. O humor, ao contrário, é uma coisa muito séria. Provo: a política é toda feita de dribles à imprensa, de desmentidos impossíveis, de promessas jamais cumpridas, de ilusão, enfim, enquanto o humor não engana ninguém: ou é engraçado ou não é, está ali no papel em exibição pública, nu e cru. Seríssimo. Por isso, os políticos em geral são bons humoristas enquanto os humoristas sempre foram péssimos políticos. Então o Ralho traz a visão contestadora, humorística e diária da realidade…

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