“O bolsonarismo assinou seu atestado de óbito”, diz João Cezar de Castro Rocha
Para João Cezar de Castro Rocha, tentativa de salvar Bolsonaro acelerou o colapso do movimento, que rompeu com a política, o empresariado e a Justiça
Em entrevista concedida a Florestan Fernandes Jr., Teresa Cruvinel e Mário Vítor Santos, o escritor e historiador João Cezar de Castro Rocha afirmou que o bolsonarismo está em colapso. Segundo ele, a tentativa de preservar Jair Bolsonaro da prisão levou seus aliados a um processo de ruptura total com a institucionalidade brasileira. “No afã de salvar a pele do Bolsonaro, o bolsonarismo está queimando todas as pontes e incendiando todos os navios”, disse.
Para Castro Rocha, o movimento comandado pela família Bolsonaro rompeu com o mundo político, com o empresariado e com o Judiciário. “A tentativa inicial de pressionar o juiz Alexandre de Moraes parecia ser algo direcionado. Já era absurdo, porque colocava de imediato todo o sistema judiciário em alerta. Depois, fazer o mesmo com os políticos, piorou o caso. Agora o Flávio Bolsonaro e o Eduardo Bolsonaro estão apoiando as medidas do Trump.”
Na avaliação do historiador, essa guinada revelou uma face ainda mais radical do bolsonarismo, que se afasta até mesmo da suposta “ideia-força” que o sustentava — o patriotismo. “O bolsonarismo acabará muito mais rápido do que eu pensei. Porque, na tentativa de salvar a pele do Bolsonaro, o bolsonarismo se afastou da sua ideia força”, afirmou.
Ao comentar a postura de aliados de Bolsonaro diante das tarifas anunciadas por Donald Trump contra o Brasil, Castro Rocha foi taxativo: “Houve um conjunto de deputados que aprovou uma moção de cumprimento ao Donald Trump pelas tarifas. Essas pessoas correm risco de não serem reeleitas, porque não é possível ser patriota da terra estrangeira.”
Segundo ele, a radicalização do discurso da extrema direita bolsonarista e sua adesão servil a interesses externos expuseram sua incoerência. “Nunca na história do Brasil nós passamos por uma situação tão indignante de pessoas tão entreguistas quanto agora nós estamos vivendo.”
O historiador também criticou duramente o senador Flávio Bolsonaro, mencionando uma fala recente na qual o parlamentar utilizou as bombas atômicas lançadas sobre o Japão como analogia política. “Ele disse: ‘É melhor que o presidente Lula se renda agora antes que venha a segunda bomba atômica.’ A próxima bomba atômica só pode ser uma: é invasão militar do Brasil, não pode ser outra. Então este homem que é senador da República tem que ser denunciado.”
Ao refletir sobre o que poderia acontecer caso Jair Bolsonaro seja preso, Castro Rocha foi direto: “Não acontecerá nada no sentido em que eles afirmam: ‘Haverá um terremoto político, o Brasil vai parar.’ Não acontecerá nada.” E comparou a conduta de Bolsonaro à do presidente Lula no período em que esteve preso: “O Bolsonaro diante do ministro Alexandre de Moraes pediu desculpas, quase chorou, o convidou para ser vice-presidente em 2026. Este homem é um covarde. […] O Bolsonaro é o líder messiânico que sempre está disposto a sacrificar a causa para salvar a própria pele.”
Na visão do escritor, o editorial recente do jornal O Estado de S. Paulo, que sugere uma reconstrução da direita sem Bolsonaro, é sintomático do esgotamento do bolsonarismo. “Bastaram 24 horas sem aquela blindagem permanente e o Tarcísio de Freitas praticamente desapareceu.”
Castro Rocha conclui que a extrema direita não desaparecerá, mas está em processo de depuração. “Acho que o que o Estadão como porta-voz da direita histórica está pedindo é: joguemos essa carga ao mar e construamos a nova direita necessária.” Assista: